Elza Soares morre aos 91 anos

Elza Soares morreu aos 91
anos nesta quinta-feira (20), no Rio de Janeiro. "É com muita tristeza e
pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua
casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais", diz o comunicado enviado
pela assessoria da cantora.
"Ícone da música brasileira, considerada
uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve
uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e
sua determinação."
"A amada e
eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos
corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até
o fim."
O corpo da cantora será
sepultado no Jardim da Saudade Sulacap, na tarde de sexta-feira (21), depois do velório no Theatro Municipal do Rio.
Pedro Loureiro, empresário de Elza, disse ao g1 que a cantora
estava bem e tinha gravado um DVD dois dias antes. Ela acordou
e fez fisioterapia. Estava com a respiração ofegante, mas garantiu a todos que
estava bem. Mas foi ficando mais ofegante e disse aos familiares: "Eu acho
que eu vou morrer".
A declaração acendeu
o alerta: os familiares foram checar sua pressão e oxigenação, e notaram uma
pequena alteração. Pedro e os familiares chamaram o médico de Elza, que enviou
uma ambulância para o local por precaução, mas 40 minutos depois, Elza foi
mudando o semblante, até que apagou.
"Foi uma morte tranquila,
sem traumas, sem motivo. Morreu de causas naturais. Esse, aliás, era um grande
medo dela: ter uma morte sofrida, por doença. Hoje, ela simplesmente
desligou", conta Pedro.
Do sambalanço à eletrônica
Elza Gomes da Conceição é considerada uma das maiores cantoras da música brasileira. Filha
de uma lavadeira e de um operário, ela foi criada na favela de Água Santa,
subúrbio de Engenho de Dentro. Elza cantava, desde criança, com a voz rouca e o
ritmo sincopado dos sambistas de morro.
Casou-se obrigada aos 12 anos, virou mãe aos 13 e
viúva aos 21. Foi lavadeira e operária numa fábrica de sabão. Por volta dos 20
anos fez seu primeiro teste como cantora, na academia do professor Joaquim
Negli. Foi contratada para a Orquestra de Bailes Garan e seguiu no Teatro João
Caetano.
Ela começou a se destacar na música como parte da
cena do sambalanço com "Se Acaso Você Chegasse", em 1959.
Nos
34 discos lançados, ela se aproximou do samba, do jazz, da música eletrônica,
do hip hop, do funk e dizia que a mistura era proposital. O último disco
lançado foi "Planeta Fome", em 2019.
A expressão era uma alusão
ao episódio em que foi constrangida por Ary Barroso no programa de calouros que
participou nos anos 50. "De que planeta você vem, menina?", ele
disse. E ela respondeu: "Do mesmo planeta que você, seu Ary. Eu venho do
Planeta Fome.
"Eu sempre quis fazer coisa diferente,
não suporto rótulo, não sou refrigerante", comparava Elza. "Eu
acompanho o tempo, eu não estou quadrada, não tem essa de ficar paradinha aqui
não. O negócio é caminhar. Eu caminho sempre junto com o tempo."
Desde que lançou o
álbum "A mulher do fim do mundo", em 2015, a cantora viveu mais uma
fase de renascimento artístico. “Me deixem
cantar até o fim”, pediu Elza em verso da música que batiza o álbum.
Começo no samba
Mais voltada para o samba, a primeira fase da
cantora tem discos gravados nos anos 60 com o cantor Miltinho (1928–2014) e o
baterista Wilson das Neves (1936–2017).
Fazem parte desta era lançamentos como "O
samba é Elza Soares" (1961), "Sambossa" (1963),
"Na roda do samba" (1964) e "Um show de Elza" (1965).
Outras fases vieram. Nos anos 70, escolheu
cantar o samba de ritmo mais tradicional. A fase rendeu sucessos como
"Salve a Mocidade" (Luiz Reis, 1974), "Bom dia, Portela"
(David Correa e Bebeto Di São João, 1974), "Pranto livre" (Dida e
Everaldo da Viola, 1974) e "Malandro" (Jorge Aragão e Jotabê, 1976).
A cantora amargou
período de ostracismo na década de 1980. Em 1983, sofreu com a morte do jogador Garrincha, com quem teve
um relacionamento por 17 anos.
Devido a essa fase de
menos sucesso, ela pensou até em desistir da carreira, mas resolveu procurar
Caetano Veloso, em hotel de São Paulo, para pedir ajuda.
O auxílio veio na forma de convite para
participar da gravação do samba-rap "Língua", faixa do álbum do
cantor, "Velô" (1984).
Essa participação
mostrou a bossa negra de Elza Soares a uma nova geração
e abriu caminho para que a cantora lançasse, em 1985, um álbum menos voltado
para o samba. "Somos todos iguais" tinha música de Cazuza
(1958–1990).
Em 2002, com direção
artística de José Miguel Wisnik, fez um dos álbuns mais modernos da
discografia, "Do cóccix até o pescoço". No ano seguinte, foi a vez de
"Vivo feliz", mais voltado para a eletrônica.
Elza seguia fazendo
shows até antes da pandemia da Covid-19 e cantou em lives. Ela estava
produzindo um novo álbum de estúdio que pode ter lançamento póstumo.
Nesta semana, ela
também se apresentou em shows no Theatro Municipal de São Paulo que foram
gravados para o lançamento de um DVD.
Fonte G1