Surtos de covid e influenza provocam escassez de mão de obra no país

A variante ômicron da
covid-19 segue fazendo estrago na força produtiva brasileira. Diversos setores
registram afastamento em massa de funcionários infectados pelo novo coronavírus
ou por influenza — sem contar aqueles que encaram a co-infecção, apelidada
de flurona. As companhias aéreas, além de supermercados, laboratórios e
hospitais, são as que mais sofrem com a escassez de mão de obra.
De quinta (6/1) a segunda-feira (10), o país contabilizava ao menos 500 voos cancelados pelas linhas
aéreas nacionais. Só a Latam havia registrado, até então, 162
viagens paralisadas, anunciando nesta terça-feira (11) mais 42 cancelamentos. A
Azul chegou a ter aumento de 400% nos afastamentos de funcionários por
atestado.
A
situação levou o Procon-SP a notificar ambas as empresas para que prestem
esclarecimentos. A GOL, embora não tenha tido cancelamentos, também foi
contactada pelo órgão. As demandas do órgão são para que as linhas
informem a quantidade exata de voos cancelados, passageiros afetados, a
previsão para os próximos 15 dias e qual o plano de contingência para minimizar
os danos sofridos pelos consumidores. Além disso, as companhias também devem
dizer com quanto tempo de antecedência estão avisando aos clientes sobre as
mudanças nos voos e quantos consumidores fizeram solicitação de reacomodação ou
de reembolso, assim como o prazo de recebimento do estorno.
No
último domingo (9), o Brasil registrou pelo menos 50 mortos por coronavírus,
empurrando o número total de óbitos para 620.031 e o de infectados para mais de
22.522.300. Com isso, a média móvel de vítimas passou para 123, um aumento de
28% em relação à média de duas semanas atrás. Os casos de gripe também vêm
crescendo em número desde o mês de dezembro.
Comércio
Não é só no setor aéreo em que são vistos os
impactos da emergência sanitária. A Associação Brasileira dos Lojistas
Satélites (Ablos) declarou que vai apresentar um pedido de redução de horário de funcionamento aos shoppings. A
intenção da entidade é ajudar os varejistas a lidarem com a escassez de
trabalhadores em razão dos surtos de covid-19 e de influenza.
A Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores (Anfavea) também relatou maior ausência de funcionários
infectados, levando a parte administrativa do trabalho das fábricas para o
formato remoto.
A
Eletrobras anunciou na quinta-feira passada (6) a retomada do trabalho a
distância após o registro de uma onda de infecções entre os funcionários. Desde
2020, 36 servidores da empresa morreram em decorrência do novo coronavírus,
conforme informações do Ministério de Minas e Energia.
O
setor de bares e restaurantes não escapa da escassez de mão de
obra. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) alega
que cerca de 20% dos trabalhadores nos estabelecimentos estão sendo afastados
semanalmente por suspeita de gripe ou de covid.
A
princípio, a orientação aos profissionais é de que se isolem e informem ao
empregador frente a qualquer sintoma — a depender do resultado da testagem, a
empresa teria de contratar um substituto temporário para manter seu
funcionamento. Acontece que como o INSS não cobre afastamentos curtos como os
necessários no caso de resultado positivo para a covid, o custo extra acaba
ficando para o empreendimento, o que muitos não estão dispostos ou não tem
condições de arcar.
Tempo de afastamento reduzido
O médico e presidente da Aliança para Saúde
Populacional, Cláudio Tafla, diz que o momento é de reavaliar a maneira como a
saúde corporativa é abordada. “Geralmente, a gente consegue organizar nossas
empresas no sentido de termos colaboradores o suficiente para contar com eventuais
férias e liberações. Porém, quando vem uma pandemia com um impacto desses, o
que a gente vê é que até as regras de afastamento têm que ser modificadas”,
defende o especialista.
Na segunda-feira (10), o Ministério da Saúde anunciou que reduziu o tempo de isolamento de
pacientes com covid de 10 para 5 dias, no caso de pessoas assintomáticas.
A princípio, o período era de duas semanas.
Segundo Tafla, isso acontece porque a ausência dos
colaboradores no mercado de trabalho “faz com que haja falta de profissionais
minimamente em número para tocar as empresas. Principalmente supermercados,
hospitais, laboratórios — que precisam desse público numa quantidade para
organizar as demandas, sendo fortemente impactados pela ausência desses
funcionários e pela ausência de substituição para esses funcionários em tempo
hábil”.
O especialista afirma que a redução no tempo de
atestado é necessária, do contrário, o sistema iria colapsar: “A gente não tem
condições de fazer a realocação de profissionais com habilidades mínimas para
poder suprir as necessidades básicas de determinados setores”.
O presidente do Conselho Regional de
Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), James Santos, diz ser necessário que os
hospitais contratem mais profissionais para repor os cortes feitos quando as
estatísticas da pandemia pareciam se estabilizar, visto que o crescimento no
número de casos de infecção pelo novo coronavírus pode deixar o sistema
exausto. Sobre a diminuição do tempo de isolamento, Santos acredita que isso
"não vai melhorar em nada o atendimento à população e, muito menos, a
condição de trabalho dos profissionais”.
Fonte Correio Braziliense